A seleção brasileira ganhou sua partida de estreia na Copa do Mundo, mas o futebol apresentado na vitória por 2×1 sobre a Coréia do Norte esteve abaixo da crítica, especialmente se considerarmos que o adversário não tem qualquer tradição em campeonatos mundiais. Para se ter uma ideia, a Coréia do Norte participou de somente uma das dezenove Copas do Mundo realizadas até agora – já contando a da África do Sul – no distante ano de 1966, na Inglaterra. É verdade que, naquela ocasião, os norte-coreanos eliminaram a Itália com uma surpreendente vitória por 1×0, considerada uma das maiores “zebras” da história dos Mundiais. Mas tal feito não é suficiente para credenciá-los como uma potência futebolística. Longe disso. Aquele jogo foi uma obra dos deuses do futebol, que às vezes aprontam surpresas. Tanto que os norte-coreanos apenas conseguiram se classificar de novo para uma Copa depois de 44 anos. Quando eles entraram em campo pela última vez, em partida válida por um Mundial, o homem ainda não havia pisado na Lua. Faz tempo, muito tempo.

E não é que o Brasil enfrentou problemas para sobrepujar a Coréia? Ouso dizer que, se a partida da última terça-feira tivesse dez minutos a mais, correríamos o risco de sofrer o gol de empate. Talvez seja exagero, mas fato é que, se o escrete nacional apresentar o mesmo futebol nos jogos diante da Costa do Marfim e Portugal, poderá amargar duas derrotas e voltar para casa mais cedo, como ocorreu naquele mesmo ano de 1966, quando a seleção teve uma de suas piores participações, sendo eliminada na primeira fase. E com Pelé no time! Por sinal, na Copa da Inglaterra, Brasil e Portugal também caíram no mesmo grupo. Portugal venceu por 3×1. E foi nas quartas-de-final de 66 que Coréia do Norte e Portugal se enfrentaram. A Coréia saiu ganhando por 3×0, mas Portugal, comandado pelo craque Eusébio, virou o jogo para 5×3. Naquele Mundial, o Brasil, como agora, começou vencendo o time mais fraco de sua chave, a Bulgária, por 2×0, mas não convenceu ninguém. Depois perdeu os jogos seguintes.

Não sou pessimista. Pelo contrário. Como qualquer brasileiro, torço para que a seleção encontre seu melhor futebol e passe pelos próximos adversários. Se mantenha firme no rumo do tão sonhado hexacampeonato. Mas terá de melhorar muito. Kaká precisa jogar bola. Luís Fabiano tem que marcar gols. Artilheiro em jejum definitivamente não combina com Copa do Mundo. E o técnico Dunga precisa ousar um pouquinho mais. Atuar contra a Coréia do Norte recheado de volantes, somente com um atacante de ofício, é brincadeira. Nestes jogos, contra adversários inferiores tecnicamente, o time tem que jogar para frente. O saldo de gols pode definir uma classificação e, se der a lógica, Costa do Marfim e Portugal deverão marcar mais gols do que o Brasil na Coréia. Nosso selecionado está devendo. Necessita de uma exibição convincente. Para aumentar a confiança da torcida, mostrar que tem condições de conquistar o sexto título mundial e apagar esse cheirinho ruim de 1966, pairando no ar. Que ele se dissipe completamente já contra os marfinenses. E o povão continue comemorando nas ruas de todo o País. (Rogério Lisboa, editor de Esportes do Jornal Integração).

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