QUEM SOU EU?

EDIÇÃO 2299 – 12-10-2024

            Fui ativista política em meu País. Ocupei o cargo de primeira ministra em duas oportunidades. Fui presa política e minha presença no parlamento deu uma nova dimensão às mulheres na participação da política.  Fui mundialmente conhecida pela minha atuação nas décadas de 1970 e 1980. Afinal, quem sou eu?

RESPOSTA DA EDIÇÃO 2298 – 5-12-2024

            Miguel de Cervantes Saavedra – (Alcalá de Henares, 29 de setembro de 1547 – Madrid, 22 de abril de 1616) foi um romancista, dramaturgo e poeta castelhano. A sua obra-prima, Dom Quixote, muitas vezes considerada o primeiro romance moderno, é um clássico da literatura ocidental e é regularmente considerada um dos melhores romances já escritos. O seu trabalho é considerado entre os mais importantes em toda a literatura, e sua influência sobre a língua castelhana tem sido tão grande que o castelhano é frequentemente chamado de La lengua de Cervantes (A língua de Cervantes).

            Em 1569 foge para a Itália depois de um confuso incidente (feriu em duelo Antonio Sigura), tendo publicado já quatro poesias de valor. Sua participação na batalha de Lepanto, no ano de 1571, onde foi ferido na mão e no peito, deixa-lhe inutilizada a mão esquerda que lhe vale o apelido de o maneta de Lepanto. Em 1575, durante seu regresso   é capturado por corsários de Argel, então parte do Império Otomano. Permanece em Argel até 1580, ano em que é liberado depois de pagar seu resgate.

            Finalmente, em 1605 publica a primeira parte de sua principal obra: “O engenhoso fidalgo dom Quixote de La Mancha”. A segunda parte não aparece até 1615: “O engenhoso cavaleiro dom Quixote de La Mancha”. Num ano antes aparece publicada uma falsa continuação de Alonso Fernández de Avellaneda. Entre as duas partes de Dom Quixote, aparecem as “Novelas exemplares” (1613), um conjunto de doze narrações breves, bem como “Viagem de Parnaso” (1614). Em 1615 publica oito comédias e oito entremezes novos nunca antes representados, mas seu drama mais popular hoje, “A Numancia”, além de “O trato de Argel”, ficou inédito até o final do século XVIII. Miguel de Cervantes morreu em 1616, parecendo ter alcançado uma serenidade final de espírito. Um ano depois de sua morte aparece a novela  “Os trabalhos de Persiles” e “Sigismunda”. (Fonte: Wikipédia)

UMA APRECIAÇÃO DO LIVRO POR OLIVER HARDEN

            Um dos trechos mais marcantes de “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes, é o célebre discurso de Quixote sobre a liberdade, no capítulo 58 da segunda parte:

………………………………..

            “A liberdade, Sancho, é um dos dons mais preciosos que os céus deram aos homens; com ela não podem igualar-se os tesouros que encerram a terra e o mar: pela liberdade assim como pela honra, pode e deve aventurar-se a vida.”

………………………………..

            O trecho em que Dom Quixote exalta a liberdade como um dos dons mais preciosos que os céus conferiram aos homens é uma das passagens mais profundas e filosóficas de “Dom Quixote de la Mancha”, de Miguel de Cervantes. No capítulo 58 da segunda parte, o cavaleiro andante expressa uma visão elevada da liberdade e da honra, colocando-os acima de qualquer tesouro material. O discurso de Dom Quixote transcende o enredo das aventuras e desventuras quixotescas, revelando a profundidade moral e política que permeia a obra. Ao articular uma filosofia de vida que valoriza a liberdade como essencial para a dignidade humana, Cervantes oferece uma reflexão atemporal sobre a condição humana e os ideais que orientam a existência.

            A Liberdade e a Dignidade Humana – O discurso de Dom Quixote sobre a liberdade expõe uma concepção idealista e universalista desse valor. Para Quixote, a liberdade não é apenas uma condição política ou social, mas uma característica fundamental da dignidade humana. Ao considerá-la um dom celestial, o protagonista eleva a liberdade a uma esfera transcendental, sugerindo que é um direito inalienável e natural, pertencente a todo ser humano, independentemente de sua condição material ou social.

            Cervantes, através de Quixote, parece antever ideias que seriam discutidas posteriormente por filósofos iluministas, como Jean-Jacques Rousseau e John Locke, que colocaram a liberdade como um direito natural. A filosofia de Dom Quixote, contudo, não se limita à reflexão sobre os direitos individuais; ela está intimamente ligada à ideia de honra. Para o cavaleiro, viver em liberdade é viver com honra, e sem honra, a vida perde seu valor. A honra, nesse contexto, não é entendida apenas como a reputação exterior, mas como a integridade moral que permite ao indivíduo agir de acordo com seus princípios e valores, sem a imposição de forças externas.

            A Dialética entre Idealismo e Realidade – O idealismo de Dom Quixote, no entanto, se contrapõe constantemente à dura realidade do mundo que o cerca. A obra de Cervantes é construída sobre o contraste entre os altos ideais que movem o cavaleiro e a frieza da sociedade em que vive. Ao longo do romance, o leitor testemunha a luta de Quixote para manter seus princípios em um mundo que, frequentemente, ridiculariza e nega esses mesmos valores. A liberdade, para ele, é um ideal pelo qual vale a pena sacrificar a vida, mesmo que o sacrifício não seja compreendido ou reconhecido pelos outros.

            Este embate entre o ideal e o real é uma das marcas centrais da obra de Cervantes. Dom Quixote, em sua busca por justiça, liberdade e honra, encarna o arquétipo do herói trágico, cuja visão de mundo, embora nobre, é considerada insana pela sociedade. A “loucura” de Dom Quixote, no entanto, é uma forma de resistência contra a banalidade e a injustiça do mundo moderno. Sua recusa em se submeter às convenções do mundo materialista e cínico de sua época revela um espírito profundamente livre, que prefere a morte à escravidão, tanto moral quanto física.

            A Honra e a Aventura Humana – O vínculo que Dom Quixote estabelece entre liberdade e honra sugere que a vida só tem valor se for vivida de acordo com os princípios que dignificam o ser humano. Para ele, a honra é inseparável da liberdade, pois é apenas em um estado de liberdade que o indivíduo pode escolher agir com retidão moral. A honra, portanto, não é uma questão de status social ou prestígio exterior, mas a manifestação de uma vida vivida em conformidade com valores elevados.

            Cervantes constrói a figura de Quixote como um símbolo do idealismo cavaleiresco em uma época de transição, em que os valores medievais de honra, virtude e coragem estavam sendo desafiados pelo pragmatismo da nascente modernidade. Quixote se recusa a aceitar o colapso desses valores e insiste em viver segundo os códigos que acredita serem os mais nobres, mesmo que isso o coloque em constante desacordo com a sociedade que o rodeia.

            A metáfora da vida como uma aventura também aparece de forma poderosa no discurso de Quixote. Para ele, a vida não é simplesmente um processo linear de sobrevivência, mas uma busca contínua por liberdade e justiça, um caminho repleto de desafios e obstáculos. A aventura, assim, se torna uma metáfora para a luta constante por viver de acordo com os próprios ideais em um mundo que frequentemente nega esses mesmos princípios.

            A Tragédia da Liberdade – Embora Dom Quixote exalte a liberdade como o maior dos dons, a narrativa de Cervantes também revela a tragédia dessa busca em um mundo imperfeito. A liberdade, enquanto ideal absoluto, é muitas vezes inatingível. A trajetória de Quixote é, em última instância, uma tragédia: sua luta incessante por liberdade e honra o leva à marginalização e à derrota, sugerindo que esses valores, por mais elevados que sejam, podem ser esmagados pelas forças da realidade material e política.

            No entanto, a derrota de Quixote não anula a nobreza de sua missão. Cervantes constrói um herói paradoxal, cuja loucura revela verdades profundas sobre a condição humana. Dom Quixote não é simplesmente um homem iludido; ele é um visionário que percebe a importância da liberdade e da honra em um mundo que as despreza. Sua insistência em lutar, mesmo sabendo que sua batalha é, em muitos aspectos, inútil, confere à sua missão uma dimensão épica e trágica.

            Conclusão – O discurso de Dom Quixote sobre a liberdade encapsula os grandes temas da obra de Cervantes: a luta entre idealismo e realidade, a importância da dignidade humana e a busca por uma vida de honra e liberdade. Embora o cavaleiro andante seja frequentemente ridicularizado por sua “loucura”, sua visão de mundo representa uma crítica profunda ao materialismo e ao conformismo de sua época. Cervantes, ao criar Dom Quixote, oferece ao leitor uma reflexão filosófica e moral sobre os valores que conferem sentido à vida, sugerindo que, apesar das derrotas e das desilusões, a busca por liberdade e honra é o que define a verdadeira grandeza da alma humana. (Oliver Harden – site Os Escritores)

Deixe um comentário