UMA HOMENAGEM EM DUAS REVELAÇÕES

EDIÇÃO 2290 – 3-8-2024

         Antonio Elias Pires de Campos, o Toninho Fotógrafo, faleceu aos 82 anos e foi sepultado em Tatuí. O Jornal Integração presta uma justa homenagem a esse tatuiano de coração.

         Quando esse semanário nasceu, dia 24 de dezembro de 1975, as fotos de Toninho foram estampadas na primeira edição e o fotógrafo, pelo seu amor à arte do jornalismo fotográfico, tornou-se um colaborador espontâneo do jornal.

         Em todos os principais acontecimentos e inaugurações de Tatuí, estavam as lentes atentas de sua máquina, com filmes. Todos revelados em um pequeno laboratório, na Rua Santa Cruz.

         Quando a Secretaria da Segurança Pública instalou o Instituto de Criminalista (IC), em Tatuí, o primeiro fotógrafo foi Antonio Pires. As fotos necessárias para laudos técnicos ficaram sob sua supervisão. Na época, esse departamento da Polícia Civil foi considerado o melhor da região, pela qualidade do trabalho executado. Bons tempos, em que o Governo do Estado provia Tatuí com equipamentos básicos de segurança.

         No entanto, foi no jornalismo fotográfico que Antonio Pires se revelou. Sua percepção jornalística conseguia ler o momento exato em que uma foto poderia se tornar um grande fato. E não existia máquina digital. E, ao desempenhar a profissão de fotógrafo, grande parte da população tatuiana já ficou na frente da sua câmera, com os filmes de 36 poses. E os principais eventos, publicados nos jornais, foram resultados de sua criatividade e de suas lentes profissionais. As duas revelações:

         1 – Em 1976, ao término do mandato do prefeito Paulo Ribeiro, a Prefeitura inaugurou a piscina pública, no Centro Esportivo “Major Magalhães Padilha”, na Rua Professor Oracy Gomes.

         No ato da inauguração, as pessoas presentes fizeram uma brincadeira com o prefeito Paulinho. Jogaram o prefeito dentro da piscina. Toninho, com sua percepção jornalística, faz uma foto com o político no ar, antes de cair na água (foto anexa). Nesta eleição, a disputa estava acirrada entre o MDB e a Arena, os dois únicos partidos políticos que a ditadura permitia. A Arena apoiava o regime ditatorial.

         Esta foto foi publicada na edição de 14 de novembro de 1976, um dia antes da eleição, na primeira página, com o título: A QUEDA DO PREFEITO DE TATUÍ.

Foto de Toninho mobiliza opinião pública na véspera da eleição de 1976.

         Por se tratar da véspera da eleição municipal, a foto e o título repercutiram na comunidade. E, para confirmar o realismo do fato político, a Arena, partido do prefeito Paulinho, perdeu a eleição. Foi eleito Olívio Junqueira para governar a cidade por seis anos, motivado por prorrogação de dois anos de mandato. Nesta gestão, Junqueira, cassado pela Câmara Municipal, foi afastado por oito meses, sendo substituído pelo vice-prefeito Dionísio de Abreu Neto.

         2 – A segunda revelação.  Aliás, revelar era o que Toninho mais fazia em seu laboratório. O ocorrido foi com uma foto tirada em uma praia no litoral paulista. O filme estava com um pequeno defeito na camada. Quando o Toninho escureceu o instantâneo por completo, o defeito tornou-se um ponto luminoso, idêntico a um disco voador. E aparições de OVNIS estavam na moda.

         Neste momento, estavam no laboratório o fotógrafo e um jornalista do Integração. Atuava também na cidade o correspondente de um jornal diário regional. Sempre à procura de boas notícias, também frequentava o laboratório do Toninho. Quando ele chega, por brincadeira, o jornalista do Integração disse:

         – Esconda essa foto, Toninho!

         O correspondente, curioso, pergunta:

         – O que você quer esconder Toninho?

         Ele mostra a foto e diz que foi tirada pelo investigador de polícia (tal), naquela madrugada, na estrada de Iperó. E justifica que o policial voltava de um plantão, viu o ponto luminoso e conseguiu fotografar um disco voador. Não deu tempo de desfazer a brincadeira. O correspondente, sorrateiramente, pegou a foto e desapareceu do laboratório. Para surpresa, na manhã seguinte, a “grande notícia” de capa do jornal regional era com a famigerada foto, estampada abaixo do cabeçalho. E o que garantia a veracidade da matéria foi atribuir a autoria da foto e a narrativa que envolvia o investigador de polícia. Na manhã seguinte, o investigador, desesperado com a repercussão da matéria, vai ao laboratório do Toninho e diz:

         – Veja que enrascada eu estou. O delegado regional de Botucatu quer que eu explique essa notícia!

         Toninho, calmamente, disse a ele:

         – Diga que foi contada ao correspondente do jornal e ele citou você na matéria.

         O investigador ainda insiste:

         – E agora? O que eu explico para o delegado?

         Toninho, com a tranquilidade que sempre lhe foi peculiar, responde:

         – Confirme!

         N.R. Esse pequeno relato mostra que a imprensa, às vezes, involuntariamente, também pode “comer de barriga”, como se diz no jargão popular. O filho Emanuel Pires, o Tico da Farmácia, guarda todos os recortes de jornais, com as histórias inusitadas, vivenciadas pelo seu pai.

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