EDIÇÃO 2264 -20-1-2024
Na última edição, a entrevista concedida por Dom Gorgônio Alves da Encarnação Neto, da Diocese de Itapetininga, repercutiu nos meios católicos de Tatuí. O bispo disse que “Jesus não excluiu ninguém”, ao referir-se às bençãos do Documento do Dicastério para a Doutrina da Fé, “Fiducia Supplicans”. Este documento abre a possibilidade de os padres abençoarem casais em situações irregulares em relação à moral católica, incluindo os homoafetivos (do mesmo sexo).
As palavras do bispo da Diocese de Itapetininga sobre o documento harmonizam com o pensamento do Papa Francisco. Em recente publicação do Vaticano, o Papa respondeu a uma pergunta sobre o documento por ele aprovado e reconheceu que “às vezes as decisões não são aceitas” e reafirmou suas palavras ditas em um evento católico em Lisboa: “O Senhor abençoa todos, todos, todos que vêm”.
Este semanário publica uma manifestação do ministro aposentado Celso de Mello (STF), sobre a entrevista concedida pelo bispo de Itapetininga.
DOM GORGÔNIO: UM BISPO FIEL AO SEU MÚNUS PASTORAL
Sua Excelência Reverendíssima, Dom Gorgônio Alves da Encarnação Neto, Bispo da Diocese de Itapetininga, de que são sufragâneas as Paróquias de Tatuí, mostrou-se digno do múnus episcopal que lhe foi conferido pelo Sumo Pontífice, ao acolher a Declaração “Fiducia Supplicans”, emitida pelo Dicastério para a Doutrina da Fé (cujo Prefeito é Sua Eminência, Víctor Manuel CARDEAL Fernández) e aprovada pelo Romano Pontífice !
Foram muito significativas as palavras de Dom Gorgônio, ao enfatizar, com inteira razão e propriedade, que “Jesus não excluiu ninguém e a Igreja sempre caminha de acordo com o Evangelho. A Diocese segue o Papa e acolhe as pessoas que vivem em situação de exclusão.”
Nessas palavras do Senhor Bispo Diocesano reside o verdadeiro espírito cristão, que há de sempre refletir a “caridade fraterna” que a Igreja revela e manifesta a todos, em ordem a traduzir “a força incondicional do amor de Deus sobre a qual se funda o gesto da benção” !
Vejo, na figura de Dom Gorgônio, um Sacerdote em plena comunhão com Roma, mostrando-se ao seu rebanho como um fiel Servo de Deus que não hesita em estender a sua mão aos que se acham em estado de exclusão !
Nele tem inteira pertinência o velho adágio segundo o qual “Ubi Episcopus, ibi Ecclesia” (“Onde está o Bispo, aí se acha a Igreja”).
Em sua atividade pastoral, e ao fazer cumprir o que prescreve a Declaração “Fiducia Supplicans”, Dom Gorgônio, o Bispo Diocesano de Itapetininga, pratica gesto de caridade cristã que revela o espírito verdadeiro de um Pastor digno de seu alto e grave múnus episcopal !
Mostra-se, nessa condição, um Bispo que atua por uma Igreja inclusiva, fraterna e solidária: uma Igreja que não discrimina, que não marginaliza, que pratica a tolerância e que repudia manifestações de ódio, de irracionalidade e de fundamentalismos estéreis !
Importante observar, neste ponto, a exortação feita pelo Papa Francisco, constante dos “Responsa” (das “Respostas”) às “Dubia” (às “Dúvidas”) formuladas por dois Cardeais, de que a Igreja de Roma, como “corpo místico de Cristo” (Primeira Epístola aos Coríntios, 12:12-14), não deve “perder a caridade pastoral, que deve permear todas nossas decisões e atitudes”, evitando a posição equivocada de juízes severos “que apenas negam, rejeitam, excluem”!
Dom Gorgônio, ao enfatizar , com absoluta correção e profunda inspiração cristã, que a Diocese de Itapetininga segue o Papa e, por tal razão, cumprirá, na esfera de sua jurisdição canônica, o que se contém na Declaração “Fiducia Supplicans”, acolhendo “as pessoas que vivem em situação de exclusão”, mostrou-se em plena comunhão com Roma, pois se revelou fiel à suprema potestade do Romano Pontífice, respeitando, no plano da constituição hierárquica da Igreja Universal, o que escreveu Sua Santidade, o Papa Paulo VI, de feliz memória e hoje elevado à honra e dignidade dos Altares, em seu Decreto “Christus Dominus” (sobre o múnus pastoral dos Bispos na Igreja), editado em 28 de Outubro de 1965:
“Nesta Igreja de Cristo, o Romano Pontífice, como sucessor de Pedro (…), está revestido, por instituição divina, de poder supremo, pleno, imediato e universal, em ordem à cura das almas. Por isso, tendo sido enviado como pastor de todos os fiéis para promover o bem comum da Igreja universal e o de cada uma das igrejas particulares [dioceses, observ. minha], ele tem a supremacia do poder ordinário sobre todas as igrejas.”
Só posso concluir estas Notas, saudando a sábia e feliz decisão episcopal de Dom Gorgônio, que revelou plena compreensão do seu grave múnus pastoral, acolhendo, para efeito da benção não litúrgica (ou não sacramental), todos aqueles “que vivem em situação de exclusão”, viabilizando, desse modo, com esse magnífico gesto de solidariedade verdadeiramente cristã, a Declaração “Fiducia Supplicans” !


