EDIÇÃO 2259 – 9-12-2023

         Na quinta-feira (30), o prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior, em reunião com uma comissão de alunos despejados pela Sustenidos do alojamento do Conservatório, tomou uma posição surpreendente durante o encontro. O prefeito tatuiano disse: “uma coisa deve ficar muito clara: o aluno só sairá do alojamento do Conservatório se ele tiver segurança que irá para um lugar igual ou melhor”. Nesta reunião, estavam presentes representantes dos estudantes e membros da Secretaria de Cultura do município, incluindo o secretário Douglas Dalmatti (Buko).

         “Nós, da Prefeitura, nos colocamos à disposição para mediar uma conversa entre a Secretaria de Cultura do Estado, com as imobiliárias da cidade. Acreditamos que o governo estadual irá tratar esse assunto de forma digna, mas, de qualquer forma, estamos apoiando e dialogando pela melhor solução. Estamos do lado dos alunos SIM!”, enfatiza o prefeito Miguel Lopes.

Início da rebelião – Dia 27 de outubro, durante visita à Tatuí, a secretária Marília Marton, da pasta da Cultura do Estado de São Paulo, anunciou o fechamento do alojamento do Conservatório e colocou à disposição dos alunos a quantia de R$ 450,00 mensais para morar, pagar luz, água, internet e outros gastos. Ela sugeria alojar os estudantes em supostas “repúblicas”, nas proximidades da escola de música. Além de receber essa “bolsa moradia”, considerada irrisória, os próprios alunos ficariam incumbidos de organizar e alugar os imóveis. O Alojamento “João Eurico de Mello Toledo”, unidade construída em terreno doado pela Família Bocchi, com verba do Governo do Estado, e repassada para o Conservatório, foi a solução encontrada por administrações tatuianas, para resolver o problema de alunos bolsistas, que vêm de fora e passam a residir na cidade, enquanto estudam na escola de música. Mesmo professores, que recebem salários baixíssimos para dar aulas em Tatuí, ocupam o alojamento, para não ter que arcar com diárias de hotel.

         O que pode se observar neste projeto de desmonte do alojamento, que atinge diretamente o funcionamento do Conservatório, é uma medida equivocada tomada pela Secretaria de Estado da Cultura. A secretária Marília Marton recebe informações passadas pela direção da Sustenidos, que se preocupa apenas com os gastos da escola. Desde que assumiu o Conservatório, esta organização social só tinha experiência em administrar o “Projeto Guri”, empreendimento social que ensina iniciação musical com instrumentos para crianças.

         Na ótica de pessoas experientes na administração da escola, esta O.S., até o momento, não apresenta um trabalho à altura de gestão da escola tatuiana, considerada de alta performance musical. Através de medidas administrativas, sem comprovado critério técnico, a O.S. apenas consegue transformar a escola, que sempre denominou Tatuí como “Capital da Música”, como inexpressiva instituição, sem nenhuma projeção no cenário artístico nacional. Da administração anterior, compunha a direção o cravista Pedro Persone. Recentemente, pediu sua aposentadoria e não está mais na direção do Conservatório.

         O fechamento do alojamento, caiu como verdadeira “bomba” na cabeça dos alunos. Pessoas experientes na administração do Conservatório, entendem que a extinção do alojamento tem uma única   finalidade: reduzir custos, para que a Sustenidos consiga cumprir o contrato firmado com a Secretaria de Estado da Cultura, quando ocupou o lugar da Abaçaí. (Na foto acima, Prefeito Miguel diz que “estamos do lado dos alunos” na questão do alojamento.)

PROBLEMAS QUE A SUSTENIDOS CRIOU
DESDE QUE ASSUMIU O CONSERVATÓRIO

         Desde que a Organização Social Sustenidos assumiu a direção do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, de Tatuí, só privilegiou o atraso e a desconstrução de anos de trabalho de abnegados tatuianos. Dentre eles, o professor José Coelho de Almeida, maestro Antonio Carlos Neves Campos, maestro Adriano Machado, maestro Dario Sotelo Calvo e professores de alto gabarito, que também foram alunos do Conservatório, que tinham uma invejável participação na estrutura dos conjuntos musicais.

         1 – A Sustenidos fez constar do contrato de gestão, a demissão de 70 músicos, que ocupavam diferentes grupos musicais e proporcionavam visibilidade nacional e até internacional para o Conservatório. Esta proposta para vencer a licitação da Abaçai, contrapõe com o próprio Regimento Interno, de autoria da O.S. Sustenidos. No ítem 1.4 – Corpo Docente se alicerça na proposta de “escolha de profissionais de alto nível de formação, com larga experiência artística e pedagógica”. Ao tentar “economizar”, embora os professores que ainda continuam na escola sejam competentes, a gestão desta “organização” contribui para que o nível de ensino da escola não contemple seu verdadeiro propósito: formação de músicos de alto nível de profissionalização.

         2 – Uma das primeiras medidas da Sustenidos, em que a reunião vazou para a imprensa e foi publicada pelo Jornal Integração, a O.S. eliminou funções de monitores e alguns destes músicos, agora trabalham apenas como professores. Na época, a medida contribuiu para redução de salários, o que levou professores e alunos a deixar a escola.  Esta medida tomada pela “organização” confronta com o íttem 1.5 do Regimento Interno do Conservatório. O método pedagógico anterior tinha por meta “proporcionar aos alunos o aprimoramento de suas habilidades técnicas, artísticas e de convívio para o ensino da música erudita”.  Do RI aprovado pela Sustenidos, quantos grupos pedagógicos ainda funcionam? Ítem 1.5: “O Conservatório de Tatuí conta hoje com 10 Grupos Artísticos de Bolsistas, que têm por objetivo incrementar as formações musical, cênica, técnica e artística de estudantes que os integram. São eles: Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí (54 integrantes), Big Band do Conservatório de Tatuí (20 integrantes), Camerata de Violões do Conservatório de Tatuí (8 integrantes), Companhia de Teatro do Conservatório de Tatuí (11 integrantes), Coro do Conservatório de Tatuí (21 integrantes), Grupo de Música Raiz do Conservatório de Tatuí (9 integrantes), Grupo de Percussão do Conservatório de Tatuí (8 integrantes), Jazz Combo do Conservatório de Tatuí (10 integrantes), Grupo de Choro do Conservatório de Tatuí (8 integrantes), Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí (57 integrantes).

         3 – A Orquestra Sinfônica Paulista (OSP), que era composta por professores e alunos em término de curso, agora existe apenas no papel. Com a insistência em compor uma orquestra só de alunos, além de mudar a metodologia pedagógica do Conservatório, implantada na escola por direções experientes, a Sustenidos não conseguiu reunir 57 componentes, como exige o Regimento Interno, para compor a orquestra. Anos de trabalho, para organizar a OSP, foram reduzidos a uma “orquestra que não toca” e nem existe mais.

         4 – O Conservatório sempre ostentou a  fama de melhor escola de música do País, pelo empenho dos administradores em manter 53 conjuntos musicais, em que os alunos atuavam e atingiam alto grau de profissionalismo. A “Semana da Música” é atividade obrigatória e consta do calendário oficial e de decreto estadual. Deve ser, obrigatoriamente, realizada de 15 a 22 de novembro. Este ano, a pífia programação, apresentada pela Sustenidos, é um exemplo do que ocorre nas áreas pedagógica e artística da  famigerada escola de música de Tatuí. Na programação de dezembro deste ano, o Teatro Procópio Ferreira, um dos melhores do estado de São Paulo, também construído no governo Abreu Sodré, vai ter uma única apresentação: “Gole Seco”, parte do Programa de Ação Cultural (PROAC), com entrada gratuita.

         5 – Nas administrações anteriores, os horários dos alunos e professores eram flexíveis e adequados para facilitar a frequência dos alunos na escola, por motivos de tempo, dinheiro e gastos com viagens. Uma inovação, que não agrada nem aos professores e nem aos alunos, somente contribuiu para afastar do Conservatório, profissionais da música clássica e promissores alunos  instrumentistas, que adquiriam na escola, técnicas adequadas para suprir o cenário artístico nacional e até internacional.

         6 – O fechamento do alojamento é o causador de uma grande confusão na vida de alunos e também de professores. Obviamente, por inexperiência da secretária Marília Marton, ela foi induzida em anunciar o fechamento do local. Com toda certeza, o motivo é financeiro. E tudo leva a crer que o objetivo é sobrar mais dinheiro da verba governamental no caixa da Sustenidos. Marília Marton imagina que faz um grande benefício aos alunos. Só que esqueceu de ler ou não contaram a ela, os termos de um documento arquivado e disponível na Secretaria de Estado da Cultura: “RESOLUÇÃO SC N° 46/2017 DE 21 DE OUTUBRO DE 2017 – Do gabinete do Secretário de Estado do Cultura. ALOJAMENTO DO CONSERVATÓRIO DE TATUÍ PROF. JOÃO EURICO DE MELO TOLEDO – Além da gestão do equipamento cultural Teatro Procópio Ferreira, o Conservatório de Tatuí possui alojamento. Fundado em 1998, visa a contribuir com o desenvolvimento do ensino da música e artes cênicas, permitindo que os alunos de outras cidades, estados e países, tenham condições ao acesso e permanência na instituição de ensino. Os estudantes que possuem maior índice de carência, cursam séries menos avançadas e que residem em cidades mais distantes, deverão ter a preferência no processo de seleção. Os moradores deverão ser selecionados a partir da comprovação do nível de carência financeira familiar aliada à distância existente entre sua moradia de origem e o Conservatório. Existem, atualmente, dois tipos de alunos alojados: o residente, que ocupa sua vaga continuamente durante todo o ano letivo, após o qual o alojado fica sujeito a ser submetido a uma nova análise de documentação para estender sua ocupação; e o diarista, que ocupa sua vaga um ou dois dias durante a semana ao longo do ano letivo. Uma vez habilitado a usar o alojamento, o aluno ficará sujeito a todas as regras e disposições manifestadas nos Regimentos do Alojamento e do Conservatório, e que deverão ser elaborados pelas Organizações interessadas e aprovada por esta Secretaria.”.

         7 – Especialistas em música clássica são taxativos em afirmar que o Conservatório, como é gerido, não cumpre mais a finalidade de criar virtuoses para o cenário artístico. Este semanário já publicou opiniões abalizadas sobre o assunto. Mesmo diante das críticas, a O.S. Sustenidos faz de conta que não ouve e deixa o Conservatório de Tatuí inexpressivo, sem nenhuma projeção. Na última edição, publicamos observações de um leitor referente ao episódio do “despejo dos alunos do alojamento”. Mas, é sempre bom repetir: “é incompreensível o comportamento do governo paulista e sua secretária da Cultura”. Esse mesmo leitor “considera um gesto vergonhoso (e reprovável) de atrevido acinte e agressão a um valiosíssimo patrimônio cultural do povo de Tatuí, precisamente às vésperas da celebração do bicentenário da fundação da cidade (1826/2026)”.

         Nota da Redação – O espaço está aberto para que a Organização Social Sustenidos conteste as informações publicadas nesta edição. No entanto, todas as respostas devem ter seu conteúdo baseado no “DECRETO Nº 52.687, DE 5 DE MARÇO DE 1.971 – Dispõe sobre o novo Regulamento do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, de Tatui. ROBERTO COSTA DE ABREU SODRÉ, GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO, usando de suas atribuições e nos termos do artigo 15 do Decreto-lei Complementar nº 7, de 6 de novembro de 1969, combinado com o artigo 89 da Lei Estadual nº 9.717, de 30 de janeiro de 1.967 e com o Ato Institucional nº 8, de 2 de abril de 1969”.

         Para facilitar o trabalho desta O.S., fornecemos o link da Assembleia Legislativa de São Paulo,  onde constam as normas legais em vigor no estado: https://leisestaduais.com.br/sp/decreto-n-52687-1971-sao-paulo-dispoe-sobre-o-novo-regulamento-do-conservatorio-dramatico-e-musical-dr-carlos-de-campos-de-tatui