Não nasci em Tatuí, mas adotei esta cidade com amor, dedicação e carinho. Fui revolucionário em importantes demandas na área da saúde neste município. Formei-me em Direito, nas Arcadas do Largo São Francisco, em São Paulo. Exerci cargos expressivos na política estadual e sempre protegi Tatuí em suas principais demandas. Afinal, quem sou eu?

RESPOSTA – EDIÇÃO 2254 – 04-11-2023]

       Manoel Guedes Pinto de Mello  –  Nasceu  dia 16 de agosto de 1853, em Tatuí, e faleceu dia 9 de abril de 1927. Era filho de Martinho Guedes Pinto de Melo e dona Maria Alves de Lima. Em 1881, Manoel Guedes organizou e criou a “Cia. de Fiação e Tecelagem São Martinho”, cujo nome homenageava seu pai. A montagem da fábrica deve-se exclusivamente ao seu pertinaz esforço e sua rígida determinação de realizar o sonho de seu saudoso pai. Dentre as várias operações relacionadas com a montagem da fábrica de tecidos, estava a aquisição da “MAXABOMBA”. Sua chegada ruidosa à cidade foi um acontecimento. Com a “Maxabomba” e mais carretas e carros de boi, foi possível, com enorme e inimaginável sacrifício, trazer os  teares da futura fábrica de tecelagem. O progressista homem, que fizera de Tatuí o centro de suas prestantes atividades, pressentiu que o desenvolvimento industrial pedia mais e mais o giro e crescimento das riquezas.  Então, na Fazenda Vitória, situada entre Tatuí e Tietê, próxima a Cerquilho, pela velha estrada do Guarapó, represou o Rio Sorocaba e construiu, pouco abaixo da lindíssima barragem, uma usina geradora de energia elétrica para abastecer suas fábricas e a cidade.

       Tijolos, telhas, manilhas, madeira aparelhada – tudo se fazia para os empreendimentos de Manoel Guedes e por ele mesmo. A excelente qualidade de seus produtos bem cedo ganharam bons e importantes consumidores, registrando-se que, da Cerâmica “São Martinho”, saíram manilhas para grande parte da rede de esgoto da cidade de São Paulo.

       Com o tempo, outras indústrias foram surgindo por força do pioneirismo genial de Manoel Guedes: fábrica de óleo; fábrica de sabão; fábrica de correias de vários tipos, para movimentação de polias de novas unidades fabris que viriam logo a fazer de São Paulo o maior centro industrial da América Latina.  Em 1° de janeiro de 1911 a luz elétrica foi ligada para a cidade de Tatuí, sendo uma das pioneiras no Estado de São Paulo.       

       As propriedades rurais de Manoel Guedes:  Fazenda das Pederneiras – café e frutas. A parte maior desse imóvel é, presentemente, o campo experimental da Ford.  Fazenda Santa Maria, em Santa Adelaide, hoje pertencentes a netos de “Manduca”.  O Taque Novo, fonte de água e mina de pedregulho, com que se calçavam as ruas de Tatuí. Chácara do Bote, mais tarde sítio de Antonio Miguel, onde moravam o Bote e dona Palmira, avós de Osvaldo Del Fiol. Só frutas e hortaliças. Fazenda do Barro Preto – lá para os lados do viaduto sobre a rodovia Castelo Branco, no acesso de Tatuí. Criação de gado. Fazenda São Martinho, em Porangaba – café, milho, cereais, pertencentes a José Carneiro, esposo de Margarida Guedes Carneiro, neta de Manoel Guedes.  Fazenda Vitória, na estrada vicinal antiga, ligando esta cidade a Tietê – represa e usina de energia elétrica, no Rio Sorocaba. O algodão, para a Fábrica de Tecelagem, e a mamona, para a indústria de óleo, eram plantados em áreas diversas das várias fazendas. Nestas, além das lavouras permanentes, havia, para o trabalhador do campo, o sistema do “foro”. Com um aspecto peculiar do “Manduca”: ao foreiro, plantador da roça, ¾ da colheita. Para a Fazenda, ¼ restante.

       Era espontânea e constante a preocupação do “Manduca” com a qualidade de vida de seus empregados. Assegurava-lhes boa moradia, assistência médica, estabilidade e armazém para suprimentos. Na farmácia e no armazém só se vendia pelo custo, não sendo permitido qualquer lucro, por pequeno que fosse. Eram unidades de atendimento. Não empresas comerciais.

       Na área médica, trabalharam com Manoel Guedes, Dr. Carmo Lordi, mais tarde professor emérito da Escola de Medicina de São Paulo da Universidade de São Paulo, Dr. Marcondes Machado, que chegou à chefia do Serviço Médico Legal do Estado, Dr. Emílio Ribas, sanitarista emérito e cientista de fama internacional, cujo nome está perenizado no hospital da Avenida Dr. Arnaldo, em São Paulo.

       Toda Tatuí conheceu e admirou esse homem, a sua capacidade de trabalho e de iniciativa, os seus sentimentos de bondade. Manoel Guedes foi rico, foi muito rico, mas nunca se deixou empolgar pelo dinheiro. Viveu tanto para si quanto para o proveito do próximo.

Fontes: Texto compilado de palestra proferida por Fernando Guedes de Moraes, na sede da Fundação Educacional “Manoel Guedes”, de Tatuí, livro “Biografias de Martinho Guedes Pinto de Melo e Manoel Guedes Pinto de Melo”, de João Alfredo Ramos (1953), “História e Memória da Fábrica São Martinho”, trabalho de conclusão de curso da Associação de Ensino Tatuiense (2004).

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